terça-feira, 13 de outubro de 2015

38 Anos da Libertação Corinthiana

Campeonato Paulista - 1977
O Fim do Jejum

22 anos, 8 meses e 6 dias.
Foi esse o tempo em que o corintiano demorou pra gritar campeão novamente, após a conquista do título e 1954.
A torcida não aguentava mais tanta gozação. Foi um verdadeiro martírio, mas que teve fim no sagrado ano de 1977. O fim das gozações. O reencontro com os títulos.
Veio, como não poderia deixar de ser, de modo sofrido. Mas veio. Vamos ver como foi.

O Corinthians não começou bem o campeonato, que teve o Botafogo de Sócrates como vencedor do primeiro turno.
Restava vencer o segundo turno para continuar com chances no campeonato. E não deu outra. Em 18 jogos, o time vence 13 e vai disputar o título do turno. Na semifinal, ganha do São Paulo por 1 a 0. Na final, disputada no dia 31 de agosto, vence o Palmeiras por 1 x 0, gol de Geraldão aos 26 minutos do segundo tempo.



Vem o terceiro e último turno. Os oito melhores times do campeonato lutam por duas vagas. Com duas derrotas nos quatro primeiros jogos, o Corinthians é obrigado a vencer os três últimos compromissos, contra Botafogo, Portuguesa e São Paulo, para continuar respirando no torneio.

Ali o Corinthians mostrou que aquele título seria nosso. Venceu o Botafogo e a Portuguesa, ambos por 1 x 0, e o São Paulo por 2 x 1.
Com essas três vitórias o Timão vai para a final enfrentar a Ponte Preta, que contava com craques como Carlos, Oscar, Polozzi, Dicá e Rui Rei. 
 Como havia perdido três jogos para a Ponte durante o campeonato, sendo um em Campinas por 4 a 0, o Corinthians festejou a decisão da Federação Paulista de Futebol de colocar todos os jogos das finais no Morumbi.
No primeiro deles, dia 05 de outubro, vitória corintiana por 1 a 0, com gol de cara de Palhinha. O título estava perto, muito perto.


A torcida, feliz, já se preparava para fazer a grande festa no domingo, dia 9 de outubro. Com um simples empate, o título, finalmente, iria para o Parque São Jorge. Entusiasmada, a torcida do Timão compareceu em massa ao Morumbi e estabeleceu o recorde de público do estádio que dura até hoje: 138.032 espectadores.



O clima parecia propício para o fim do jejum. Mas, com a contusão de Palhinha no primeiro tempo, a incerteza começou a aparecer. O gol de Vaguinho, que substituíra o atacante, aos 43 minutos, parecia colocar tudo de volta ao normal e deixar a torcida em delírio. Vem o segundo tempo e, para desespero da Fiel, a macaca reage. Dicá, aos 22 minutos e Rui Rei, aos 33, viram o jogo e calam o Morumbi. A decisão estava adiada para quinta-feira à noite.


Apesar de não ser tão grande como no domingo, a torcida corintiana enche o Morumbi para ver aquele que seria o jogo da libertação, do fim do jejum, que já durava 22 anos, oito meses e seis dias.

13 de outubro de 1977. Uma data que entrou para a história do Corinthians e do futebol brasileiro. O Dia da Libertação Corintiana!

Começa a partida e logo de cara, aos 16 minutos, mais de 80 mil corintianos vêem o perigoso atacante Rui Rei reclamar com o juiz Dulcídio Wanderley Boschillia e ser expulso. Quem temia por uma nova tragédia passou a ficar mais aliviado.

Mesmo precisando de um empate no tempo normal e na prorrogação, o Corinthians foi para cima da Ponte. Geraldão, artilheiro do Timão naquele campeonato com 24 gols, quase abre o placar aos 39 minutos, após aproveitar um cruzamento de Vaguinho.

Chega o segundo tempo. Os dois times entram nervosos e muito cautelosos. O medo de tomar um gol fez com que as equipes ficassem apenas se defendendo. Em raros contra-ataques, o perigo aparecia. Em um deles Dicá, da macaca, cabeceia livre na área. Para fora.
Assustado, o técnico Brandão se levanta e manda o time para o ataque. Aos 36 minutos, Zé Maria bate uma falta pela direita. A bola percorre toda a pequena área e vai parar no pé de Vaguinho, que, de bico, chuta a bola no travessão do goleiro Carlos. Na volta, ela quica no chão e sobe para Wladimir cabecear. Em cima da linha, Oscar, também de cabeça, salva. Mas no rebote, a bola sobra para o pé direito de Basílio. O meia, com toda a força, faz então o esperado gol. Festa no Morumbi. Restavam apenas 8 minutos. Nessa hora, não havia mais esquema tático. Pouco antes de acabar, Oscar e Geraldão, que foi o artilheiro do campeonato com 24 gols, brigam e são expulsos. Aos 46, Dúlcidio pede a bola e encerra a partida: o Corinthians é campeão.

Fim do jejum. Fim do sofrimento.



A torcida invade o campo e comemora com os seus ídolos. Brandão é carregado no colo, o presidente Vicente Matheus perde os sapatos, os jogadores ficam quase nus.
O coro de “é campeão” toma conta da noite paulista e invade a madrugada. A partir daí, surge um novo Corinthians. Acabaram-se os traumas e o time volta a ser o bom e velho vencedor. O gol de Basílio foi o mais importante da história corintiana. Veja seu depoimento sobre o jogo:

“A terceira partida da final do Paulistão de 77 foi a melhor que nós fizemos no campeonato. Jogamos determinados, fomos pacientes e também atrevidos. Tanto que, mesmo precisando do empate, fomos para cima da Ponte Preta. No primeiro tempo merecíamos ter feito uns dois ou três gols. Na segunda etapa, o jogo ficou equilibrado até o gol. O lance saiu de uma bola parada e eu, depois do bate-rebate, fiz o gol de direita e corri para a galera. Após o jogo, queríamos dar a volta olímpica, mas foi impossível. Pouco importa. O que valeu mesmo foi a festa e o fim do jejum.”


O artilheiro do Timão foi Geraldão, com 23 gols, um para cada ano de fila!
Olha a festa do Brasil! Você enche de lágrimas os olhos desse povo, você enche de felicidade o coração dessa gente, Corinthians. O grito sufocado de um povo! O grito do fundo do coração de um torcedor. Depois de 20 anos a Fiel está explodindo! 22, 23, duas dezenas de anos na cabeça desse povo!" essa foi a primeira parte do desabafo do narração de Osmar Santos no dia 13 de outubro de 1977.
Basílio havia acabado de fazer o gol que libertou a massa corintiana e findou o jejum de títulos que durou exatos 22 anos, oito meses e uma semana. Enlouquecidos 86.677 torcedores explodiram em um Morumbi tomado por preto e branco, aos 36min do segundo tempo da difícil decisão contra a Ponte Preta. Enfim, estava encerrada a maldição. 

"Ter participado daquele título foi maravilhoso, sabíamos do anseio da torcida em acabar com aquilo. Acabamos aglutinando toda aquela energia, aquela ansiedade, e conseguimos dar o retorno com o título. Isso não tem preço. Você ver a alegria de uma nação, porque 35 milhões de apaixonados é a população de muitos países da Europa. O Corinthians é uma nação. Não tem preço, não tenha dúvidas disso", disse Wladimir.

"Eram pessoas sofridas, menos favorecidas, alguns eram nordestinos que vinham tentar a vida em São Paulo e se identificavam com a luta, com o sofrimento do Corinthians. O clube é um fenômeno social que é resultado da luta de resistência de um povo", definiu o historiador e jornalista Celso Unzelte. Mas em 1977 a história parecia que ia ser diferente.


"O Corinthians vira explosão e vira o maior espetáculo do território brasileiro! Corinthians, você acima de tudo é a alma desse povo! Você liga a imagem do sorriso de felicidade das raízes do povo! Corinthians, hoje a cidade é do povo! Tem que ter festa alvinegra! Tem que cobrir as ruas da cidade com paixão e loucura! Com felicidade, que desabrocha e contagia o povo pelas avenidas! Basílio, Basílio, Basílio! Trinta e sete minutos do segundo tempo!", narrava a segunda parte do trecho proferido por Osmar Santos, que durou cerca de dois minutos, no momento do gol da redenção.

De fato, era a explosão do alívio de milhões de apaixonados corintianos, tão maltratados pelas decepções que assolaram seu clube de coração e insistiram em ultrapassar a barreira de décadas. O sofrimento continuou durante todo o Campeonato Paulista de 77, incluindo as três decisões contra a Ponte Preta. No último embate, foram necessários 81 minutos para que Basílio fizesse o gol da libertação alvinegra.
"Eu me acho um escolhido, porque se for analisar, tivemos duas oportunidades, que foi o lance com o Vaguinho, com o Wladimir e finalizando comigo. Algo estava preparado e eu não sabia, e nós não tínhamos nem essa dimensão referente a essa conquista, a esse gol. Nem nós mesmos éramos sabedores de que foi tão importante essa conquista. Não sabíamos da magnitute disso e hoje é muito prazeroso e gratificante lembrar disso tudo", afirmou um emocionado Basílio.

Vaguinho também seguiu pelo mesmo caminho do ex-companheiro Basílio e destacou o momento ímpar. "Foi tanta pressão para ganhar que não deu nem para pensar, a ficha caiu três dias depois. Fomos campeões em uma quarta-feira e na quinta estávamos viajando para o Norte pelo Campeonato Brasileiro. Só caiu a ficha lá em cima. Não teve tempo para comemoração, nem para nada. Futebol é isso, é aquele momento que fica e dura para sempre", disse.
Quanto ao apoio incondicional do torcedor na campanha histórica, o atacante Geraldão classificou como imprescindível. "A torcida não tem nem o que falar, é fora do normal. Você tem apenas que entendê-la. Na minha época, fizemos vários jogos que a gente perdeu e a torcida estava na esperança de que ganharíamos, mas não perdemos porque queríamos, nós tentávamos. E a torcida, o que ela sentia, ela acompanhava a gente aonde nós fôssemos, o tempo todo. Isso era inexplicável", definiu.
"Foi uma felicidade muito grande, pois nós conseguimos conquistar um título muito sonhado pelo torcedor, quebramos os 22 anos do jejum. É uma felicidade muito grande pelo reconhecimento do torcedor corintiano, o que ele tem com aquela turma de 77", ressaltou Palhinha, que fez o primeiro gol das finais.
"Hoje é o verdadeiro dia do povo! Dia de cantar alegria e ser feliz! Hoje mais do que nunca a cidade é do povo! Festa do povo! Doce mistério da vida esse Corinthians! Inexplicável Corinthians... Vai buscar alegria no fundo da alma do povo!", gritou a terceira e última parte da narração de Osmar Santos, no mais célebre momento da história corintiana, que finalizou o desabafo que marcou o fim de uma era de angústias e sofrimentos dentro da mais popular torcida do Estado de São Paulo.



Em pé: Zé Maria, Tobias, Moisés, Ruço, Ademir e Wladimir;
Agachados: Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu.



A taça de 1977
(Foto: Arquivo Victor Hugo)

Campanha - Campeonato Paulista de 1977
1ª Fase
1º Turno
09/02/1977Corinthians2X0Portuguesa Santista
13/02/1977Ponte Preta4X0Corinthians
16/02/1977Corinthians3X0Comercial (Ribeirão Preto)
19/02/1977Paulista0X2Corinthians
24/02/1977Ferroviária (ARARAQUARA)0X0Corinthians
27/02/1977Marília0X2Corinthians
02/03/1977Corinthians0X1Juventus
06/03/1977Botafogo (Ribeirão Preto)2X2Corinthians
10/03/1977Corinthians2X0Portuguesa
13/03/1977Noroeste1X0Corinthians
20/03/1977Santos1X1Corinthians
23/03/1977São Bento (Sorocaba)0X0Corinthians
27/03/1977Corinthians0X3Guarani
17/04/1977Corinthians1X0São Paulo
20/04/1977Corinthians3X1XV de Piracicaba
27/04/1977Corinthians3X0América
08/05/1977Palmeiras0X0Corinthians
11/05/1977Corinthians4X0XV de Jaú
2º Turno
22/05/1977Corinthians2X0São Bento (Sorocaba)
25/05/1977Corinthians5X1Noroeste
29/05/1977Corinthians4X0Santos
05/06/1977XV de Jaú3X0Corinthians
09/06/1977Corinthians2X0Botafogo (Ribeirão Preto)
12/06/1977Guarani2X1Corinthians
19/06/1977Portuguesa Santista0X1Corinthians
26/06/1977Comercial (Ribeirão Preto)0X1Corinthians
02/07/1977Corinthians4X0Paulista
10/07/1977Portuguesa1X0Corinthians
17/07/1977Corinthians1X0Juventus
24/07/1977Palmeiras4X2Corinthians
27/07/1977Corinthians1X0Marília
31/07/1977América1X2Corinthians
10/08/1977XV de Piracicaba2X3Corinthians
13/08/1977Corinthians3X1Ferroviária (ARARAQUARA)
21/08/1977Corinthians1X0São Paulo
25/08/1977Corinthians1X2Ponte Preta
Semifinal (2º Turno)
28/08/1977Corinthians2X1São Paulo
Final (2º Turno)
31/08/1977Palmeiras0X1Corinthians
3º Turno
04/09/1977Santos2X2Corinthians
11/09/1977Corinthians0X1Ponte Preta
18/09/1977Corinthians2X0Palmeiras
21/09/1977Corinthians0X1Guarani
25/09/1977Botafogo (Ribeirão Preto)0X1Corinthians
29/09/1977Corinthians1X0Portuguesa
02/10/1977Corinthians2X1São Paulo
Final
05/10/1977Corinthians1X0Ponte Preta
09/10/1977Corinthians1X2Ponte Preta
13/10/1977Corinthians1X0Ponte Preta
Campanha - Campeonato Paulista de 1977
JVEDGPGC
48306127338

Meus Vinte Anos ( Paulinho Nogueira ) 

São vinte anos de espera
Devoção e muito amor
Cada vitória é uma festa
E a derrota, um dissabor
Quase sempre é conquistado quando é preciso ganhar
Mas nessas tantas vitórias - algumas sensacionais!
A gente esquece de tudo, não desanima jamais!

Refrão
Ai, Corinthians, cachaça do torcedor
Colorido em preto e branco
Sem preconceito de cor
Ai, Corinthians, quando és o vencedor
Pobre fica milionário, rindo da própria dor

E lá se vão vinte anos, alimentando ilusão
Renovando esperança, agüentando gozação...
Cada domingo sombrio, eu, eterno sonhador
Chegava em casa arrasado, maltratava meu grande amor,
Meu São Jorge, me de forças pra poder um dia, enfim,
Descontar meu sofrimento em cima de quem riu de mim!

Ai, Corinthians, cachaça do torcedor
Colorido em preto e branco
Sem preconceito de cor
Ai, Corinthians, quando és o vencedor
Pobre fica milionário, rindo da própria dor. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário